segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Haicais inspirados na Pista da Saúde

Pôr do sol dilui-se
Entre as árvores do bosque _
Pinheirais dourados.


Cheiro da folhagem
Entre o gorjeio dos pássaros _
Aragem sulina.

Pessoas caminham
Nas trilhas do bosque_
Ah! O perfume das flores.

No silêncio das árvores
O despertar dos sentidos_
Visão e audição.

Eucaliptos perdem
A casca para o solo_
Ciclo natural.

Pinheiros conservam
A velha casca aderente_
Conforme a espécie.

Carrapato anda
Sobre o branco  papel
Façanhas do  vento.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Lagoa de Cristal





Diante do fulgor de suas águas
Já surgiram inúmeros poetas,
Cantando-lhe em versos ternas mágoas,
Sem ocultar-lhe as dores mais secretas.

Talvez nem percebessem a grande frágua
Do sol ferindo-lhes a face como setas
Nem a suave chuva que enxágua
O fio de densas lágrimas concretas.

Somente quando a noite traz magia
Das estrelas com o lindo luar,
Desce dos céus a triste nostalgia.

E a doce inspiração faz retornar
Sobre a lagoa que se enche de poesia
Para a bela lua se mirar.
 

Eu queria ser

QUERIA SER

Queria ser minha alma
Mansa como um riacho,
Fluindo cheio de calma
Por solo alto ou baixo.
Se ele fosse passar
Por sendas de limo cheias,
Seria só sem manchar
O asseio das areias.
Alcançaria a planície
Sem sentir simples bulício,
Subindo à superfície
No sossego do início
Semearia a vida,
Ofertando a umidade
À margem toda florida,
Com sábia intensidade.
Que seus peixes trouxessem
Para si as níveas garças
E as outras que viessem
Em bandos ou só esparsas.

Sendo límpido espelho
Das constelações sulinas
Seguiria o seu conselho
Pelos vales e colinas.
Ouviria o doce canto
Das aves dentro dos ninhos
Como suave acalanto
Nos arbustos ribeirinhos

Não deixaria sofrer
A sede tão crucial
A quem quisesse beber
Do puro manancial.
De acácia mais nobre
Teria sóbrias pontes
Onde andassem rico e pobre
Por cima de suas fontes.
Seus vapores formariam
Grossas nuvens imensas
Que à terra tornariam
Em forma de chuvas densas.


Transbordaria os lagos
Do lugar em que nasceu,
Reverdeceria os pagos
Que um dia conheceu

Cumpriria o trajeto
No suave chão natal
Que lhe merece o afeto
Estado do Pantanal
Fitaria com orgulho
Sua natura pujante
Antes de dar um mergulho
Tranqüilo e triunfante,
Sentindo que vale a pena,
Mesmo por entre fráguas,
De maneira tão serena
Ir levando suas águas

Haicais e Tancas

Pista da Saúde

Eucaliptos e pinheiros
Lindo pôr de sol.
Dourados sonhos  voejam
Asas para o oeste.

Cheiro bom das folhas
Gorjeio dos passarinhos
Aragem sulina.
Refrigério apena
Para o cansaço do dia.

Pessoas caminham
Por pistas determinadas
Para manter a saúde.
Mente sã em corpo são
O coração elevado.

Silêncio espontâneo
O bosque fala aos sentidos
Visão e olfato.
Vida em renovação
Expectativas se abrem.

Entre Sonhos, Ideais e amizade

ENTRE SONHOS, IDEAIS E AMIZADE

            Encontraram-se as três adolescentes no internato feminino do Colégio Santa Clara, dirigido por religiosas clarissas, no início das aulas do ano de 1930, em São Paulo.
            Descobriram que eram da mesma cidade, situada no interior de Mato Grosso, durante a aula inaugural, na quinta série do ginásio.
            No recreio, Mary Ellen, comunicativa e sorridente, reuniu-se às conterrâneas, saudando-as com muita graça.
            Mariane, de tez alva, estendeu-lhe a mão delicada para cumprimentá-la.
            Margareth, de cabelos louros, imitou-lhe o gesto e logo conversaram animadas.
            Com o passar das semanas, conversando diariamente, tornaram-se tão íntimas que já não existia segredo entre elas.
            Pensando nas férias de julho, planejavam passá-las na fazenda dos pais de Mariane, para conhecerem a sede, em estilo colonial, banhada por rios.
            Seus ideais eram os mesmos: formatura para o magistério e um casamento com alguém que as agradasse e fosse aprovado pelos familiares.
            Quanto aos sonhos, cada uma tinha o seu, bem guardado no coração, mas que foram expostos aos olhos das colegas, abertamente.
            Eram puros assim como aquelas que os elaboraram, em silêncio, sem revelá-los nem aos familiares, temendo, talvez, qualquer dito contrário a eles.
            Mary Ellen sonhava ser jornalista, quando os planos da família eram conceder-lhe apenas o curso para professora, mais compatível com a época um tanto repressora da liberdade feminina.
            Margareth ansiava por especializar-se no Instituto Britânico e estagiar em Londres, mas temia declarar este desejo aos pais.
            Mariane apenas gostaria de escrever livros, visto que desde pequena tinha pendor para a literatura e para isto, também, não sabia se teria apoio paterno.
            Certa vez, durante a oração das seis horas da tarde, na capela do educandário, suplicaram em sintonia, para que pudessem realizar os sonhos e ideais e conservar a amizade entre elas.
            Assim, em harmonia, chegaram ao final dos cursos secundário e complementar para o magistério, com sete anos de convivência.
            Após a entrega dos diplomas, abraçaram-se emocionadas, pressentindo que desse momento em diante, tomariam rumos diferentes.
            Mariane foi a primeira a casar-se, assim que retornou à fazenda.
            Margareth obteve o consentimento paterno para especializar-se no Instituto Britânico de São Paulo.
            Mary Ellen conseguiu a aprovação para cursar a Faculdade de Jornalismo, também na capital paulista.
            As três ex-colegas, embora não se vissem mais, trocavam correspondência assídua.
            Mariane  ficou a par do casamento de Margareth com um jovem londrino e o de Mary Ellen com um professor de espanhol.
            Quando Mariane tornou-se mãe, participou o nascimento de cada filho seu, ao todo onze herdeiros e soube que tanto Mary Ellen quanto Margareth tiveram somente dois descendentes cada uma.
            Para Mariane a vida correu repleta de afazeres domésticos, mas sempre encontrou tempo para alfabetizar cada um dos filhos, antes de enviá-los à escola.
            Também ajudava o esposo, homem trabalhador e decidido, na administração da fazenda que, ao longo de quase três décadas, prosperava em gado e fabricação de açúcar e rapadura.
            A fortuna acumulada poderia proporcionar a toda a família riqueza mais que suficiente para uma existência de classe abastada.
            Mariane poderia, agora, que se aproximava dos cinqüenta anos de vida, desfrutar de férias em qualquer lugar do mundo que lhe aprouvesse, porém preferia continuar em seu lar, cumprindo os seus deveres de esposa e mãe.
            Certo dia, espraiou o olhar pelas vastas terras que lhe pertenciam já por herança, pelo gado incontável pastando pela pradaria, pelo inúmeros empregados, fabricando o branco açúcar ou a morena rapadura e sentiu que ainda lhe faltava algo para completar-lhe a alegria de ter frutificado em fartura.
            Era o desejo de sentar-se frente à escrivaninha e deixar fluir a história de seus dias juvenis. Sobrava-lhe tempo, agora, que seus meninos e meninas já estavam crescidos e criados. Assim, pensando, sentou-se, quase sem perceber, diante de um grosso bloco de papel em branco e pôs-se a escrever. Primeiramente o título: “Entre sonhos, ideais e amizade”. Depois, com mil detalhes, foi revivendo o seu período colegial, cercado de aprendizagem, inocência, vivacidade e energia juvenil, tão diferente da sua saúde atual que já começara a faltar-lhe.
            Ao encerrar a narração, após algumas semanas, entregou-a para o filho primogênito, Alonso, dizendo-lhe com um sorriso triste e pálido:
-          Cuide bem deste livro, filho. Não há pressa para publicá-lo. O importante é que ele está aí bem guardado em suas mãos de excelente advogado.
            Alonso olhou-a carinhosamente, dizendo-lhe:
-          Fique tranqüila, mãe. Logo tomarei providências para que a sua obra-prima seja publicada com toda a honra que merece.
Ao despedir-se de Mariane, Alonso ainda lhe assegurou:
-          Pode confiar em mim, mãe! Não irei decepcioná-la.
Quando regressou ao seu escritório na cidade, o jovem causídico ligou depressa para um editor paulistano, seu conhecido, pedindo-lhe informações sobre o tempo necessário para a publicação da obra que lhe fora confiada, bem como sobre a melhor qualidade da encadernação e papel.
Sendo aconselhado pelo editor a apresentar a versão do manuscrito em língua inglesa e espanhola, Alonso lembrou-se de recorrer a Mary Ellen, para o Espanhol e a Margareth para o Inglês.
Entrando em contato telefônico com as amigas da mãe, conseguiu a aquiescência de ambas para colaborarem no objetivo de lançamento internacional da história de Mariane em que elas apareceriam também como personagens da vida real juntamente com a autora.
Marcando a data, em breve Alonso foi à capital paulista e entregou cópias do volume às tradutoras e ao editor que ficou encarregado de reivindicar as versões dentro do prazo estipulado por elas: uma semana e de responsabilizar-se por uma revisão impecável da publicação.
Rapidamente, Alonso fez o orçamento e pediu que a encomenda fosse enviada para o seu endereço em Mato Grosso dentro de um mês.
Ele queria que no próximo aniversário de Mariane em que ela iria comemorar seus quarenta e nove anos, pudesse surpreendê-la com a publicação esmerada, como presente seu àquela que engavetara, por tantos anos, os seus anseios em prol dos seus familiares.
A festa natalícia chegou e Mariane ficou surpresa com a festa que lhe prepararam no salão-nobre da sede, recebendo mais de cem convidados entre parentes e amigos.
Fotografias foram tiradas da aniversariante ao receber os presentes de cada filho e do esposo.
Quando chegou a vez de Alonso, ele presenteou-a com os três volumes luxuosos da história publicada por Mariane.
A felicidade materna ficou estampada na foto feita nesse momento único de toda sua laboriosa existência, ao lado de toda a família que a aplaudia.
Outro instante de grande alegria foi o da partilha do bolo imenso, bem decorado, encimado com as tradicionais velinhas, marcando a recente idade adquirida.
Ao se despedirem os últimos convidados, Mariane, cansada e feliz, retirou-se para o quarto onde abriu os três livros recebidos como amostra da grande edição encomendada.
Reconheceu na tradução, em Inglês, a letra de Margareth que lhe dizia: “Os sonhos possuem asas e podem nos levar ao infinito”.
A seguir, olhou a tradução em Espanhol onde Mary Ellen lhe assegurava: “Os sonhos não devem ficar engavetados, pois têm asas com as dos anjos para nos levar ao paraíso”.
Viu a dedicatória de Alonso em outro: “Seu sonho, mãe, hoje se realizou. Aceite minha admiração e grande amor”.
Colocou-os à cabeceira de seu leito onde se deitou ciente de ter efetivado seus ideais e sonhos.
As dores que freqüentemente lhe oprimiam a respiração, manifestaram-se mais agudas agora, a ponto de tirarem-lhe o fôlego, mas, na capa luxuosa dos seus livros, brilhava uma chama dourada e vívida: da amizade mantida até os suspiros finais e a do amor filial representado pelo esforço de Alonso de torná-la feliz.
Talvez foi o júbilo excessivo que lhe acelerou o batimento cardíaco nesta noite ocasionando-lhe uma serena ascensão ao infinito, enquanto dormia, esplendidamente seu sono de realizações.




terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

As três janelas do tempo

AS TRÊS JANELAS DO TEMPO

OUTRORA, é o nome da primeira
E nela debrucei-me para olhar
A bela florescência da mangueira
Que perfumava todo o pomar.

Em seu peitoril, sentei-me arteira
Para ingenuamente desfrutar
Da infância a doce pasmaceira,
Fartando-me da boa luz solar.

Bem mais tarde, em plena mocidade,
Fitei através dela os ideais
E os sonhos de amor desta idade.

Porém, num certo dia os meus ais
Fecharam-lhe enfim, a claridade,
Levando para sempre os meus pais.

Chama-se HOJE, esta, a segunda
E através dela, vejo a avenida,
Desde a rósea aurora tão jocunda
Que chega para dar-lhe nova vida.
Da idade madura as marcas fundas
Em meu rosto relembram muita lida,
Contudo não me deixam as profundas
Mágoas nesta alma renascida.

Pois, eu firme estou neste presente,
Prosseguindo avante a caminhada,
Fitando o meu alvo simplesmente,

Para que eu não perca na jornada
Este ânimo que me põe à frente
Rumo à meta já delineada

A derradeira chama-se AMANHÃ
Com as revelações do meu porvir:
Em que se valorizam as manhãs
Com todas as surpresas do devir

Aguardarei por ela a Antemanhã
Com tudo que sonhei a se abrir,
Sem precisar de mais nenhum afã
Que não seja a Deus o bem servir.


Os projetos que não foram cumpridos,
Esperam sua vez sem mais quesito,
Para que ainda sejam concluídos.

É a melhor janela da existência
De onde se descortina o infinito
E o cumprir da missão em sua essência.




quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Minhas poesias

Herança


Certa vez, eu vi meu pai, num acaso,
Na inspiração fugaz da poesia,
Como se estivesse, em curto prazo,
Fora do mundo cheio de utopia

Aos célebres reflexos do acaso
Um soneto ungido lhe nascia,
Recém-vindo do lúcido parnaso,
Refúgio ao qual se ascendia.

Na minha inocência de criança
Talvez não entendesse tal momento
Repleto de grandeza e bonança.

Só depois percebi com grato alento
Que nele me foi dada a herança
De transformar em verso o sentimento.



A poesia de cada dia.

Há aqueles que gostam de fotografias, pinturas, decoração, e tantas outras atividades interessantes, mas o que eu gosto mesmo é de poesia e se você compartilha este gosto poético comigo, por favor, sinta-se em casa.