Sou caipira
Quando chega o mês de junho, chega também a vontade de contar um “ causo” de minha terra no tempo em que ali tudo era mato, ou seja, por volta do século passado.
Quem me contou este foi um descendente de um dos personagens deste fato que ele afirma ser verídico. Não vou descrer, porque este contador de “ causos” não os conta a não ser para os que creem em sua palavra de homem honrado na época em que se dizia “ palavra de rei não volta atrás”.
E foi assim que ele contou em uma roda de seus amigos e amigas:
Meu bisavô era um tocador de viola dos melhores e muito famoso na região de Mato Grosso onde ele nasceu. Seu companheiro de festas era um bom sanfoneiro que não deixava passar uma oportunidade para animar os bailes das pessoas que o convidavam.
Certa vez os dois foram chamados para um arrasta-pé num arraial muito distante do que eles costumavam frequentar.
Na véspera dessa viagem em que deveriam atravessar um perigoso trecho do pantanal, Tonico, o violeiro, teve um sonho que lhe mostrara claramente que não deveria ir,pois haveria risco de vida.
Então ,ao amanhecer do novo dia, disse ao amigo sanfoneiro:
-Oi, Chico. Tenho que desistir da viagem porque sonhei que há perigo no atravessar da ponte. Como você sabe, tenho muita fé em Deus e quando vou assumir um compromisso sempre digo “ Se Deus quiser eu vou”.
.Chico respondeu:
-Comigo , não tem nada disso. Se Deus quiser ou não quiser eu vou. Compromisso é compromisso. E arriou seu cavalo, pôs a sanfona na garupa do baio e lá se foi sem olhar para trás.
Tonico ficou triste por ver a incredulidade de Chico.Pensou até em desfazer a amizade que tinha formado com ele há tanto tempo, mas logo foi trabalhar no seu roçado e se esqueceu do ocorrido.
Na manhã do outro dia, vê o ex-amigo de volta. Pergunta-lhe:
-E aí Chico ?A festa foi animada?
-Que nada! Quando cheguei lá a ponte estava derrubada pelo vento forte e não consegui sair de Mato Grosso um palmo sequer! Olha, amigão ,agora vou fazer como você disse : Se Deus quiser eu vou, se Ele não quiser eu não vou”.
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